GRAVURA EUROPÉIA RENASCENTISTA

A gravura está ligada em sua essência a reprodução de imagens.

Embora tenha surgido originalmente com a finalidade de reproduzir textos religiosos, foi na forma de imagem que ela evoluiu e se consagrou.

Enquanto no texto o valor é representado pelo conteúdo do que nele vai escrito, na gravura a imagem em si, ou seja, a própria gravura é o valor.

Assim, a posse da imagem estampada, que era múltipla e reproduzida centenas de vezes, num mundo onde as imagens existentes eram basicamente as representadas pela pintura, que era única e muito cara, permitiu que cada vez mais pessoas pudessem abrigar em suas casas imagens valiosas pelo que representavam.

Nisso reside o grande sucesso da gravura como forma de expressão, ela democratizou o acesso a imagem tornando-se parte da vida das pessoas.

Surgida na China por volta do ano 670 a gravura se tornou Possível graças em grande parte a invenção do papel atribuída a Ts`ai Lun que apresentou o papel ao imperador no ano105 da era cristã.

Seguindo as antigas rotas da seda e das especiarias, tanto o papel como a gravura chegaram ao ocidente sendo incorporados a vida artística de uma Europa efervescente em idéias e diversificada com povos, línguas e costumes que formavam um verdadeiro caldeirão cultural.

Assim como descreveu Charles Darwin em “A origem das espécies”, percebemos que as invenções e conquistas da humanidade acontecem por evolução, num processo onde uma idéia leva a outra e cada conquista abre caminho para a seguinte. As técnicas de impressão surgiram na Suméria, onde hoje fica o Iraque, ha cinco mil anos atrás. Ali foram gravadas inscrições em relevo em placas de argila utilizando “sinetes”, um tipo de carimbo. Esta forma de impressão rudimentar estende-se para a Índia e depois para a China onde encontrou a tinta e o papel gerando então a gravura que conhecemos hoje.

Com a chegada do papel a Europa, trazido pelos árabes mouros que invadiram a Espanha, a gravura pôde finalmente ser executada em sua forma original criada na China pelos monges budistas.

Este intercâmbio de conhecimentos que transitavam pelas rotas comerciais foi decisivo para o desenvolvimento da gravura européia cujo início se deu por volta de 1400 quando cartas de jogar passaram a ser impressas e o baralho se difundiu entre a nobreza, a aristocracia e posteriormente entre as pessoas comuns, tornando-se popular.

A seguir vieram as imagens de santos com desenhos de melhor qualidade influenciados pela pintura, pelos vitrais e pela estamparia de tecidos.

As estampas religiosas, produzidas em grande quantidade passaram a fazer parte da vida religiosa das pessoas.

Uma xilogravura representando a imagem de “Santa Dorotéia” pertencente ao Acervo do Estado em Munique, datada de 1420, é um exemplo das primeiras gravuras deste tipo.

Embora tenha sido a forma inicialmente adotada para a produção de estampas impressas, a xilogravura logo recebeu na Europa a companhia de uma nova técnica, mais sofisticada e com muito mais recursos, a gravura em metal. Utilizando placas de cobre como matriz e instrumentos delicados chamados “buril”, esta técnica permite traços finos e precisos favorecendo detalhes, texturas e sombras elaboradas.

Os primeiros gravadores a utilizarem esta técnica eram oriundos da ourivesaria onde aprenderam a forma delicada de trabalhar os metais.

Dois deste artista se destacaram neste peíodo; Martin Schongauer (1430 – 1491) e Antonio Del Pallaiuolo (1431 – 1498). O primeiro aprendeu o ofício de ourives na oficina de seu pai, tornou-se pintor e impressor de gravuras alcançando fama internacional. Schongauer foi considerado o melhor artista deste período inicial da gravura em metal.

O segundo, Antonio Del Pallaiulo, formado como ourives e cinzelador, desenvolveu um estilo muito pessoal e arrojado nas concepções que adotou na sua pintura, escultura em bronze e na gravura em metal. Sua gravura “Combate de dez homens nus” é considerado um clássico.

São dois artistas destacados nos primórdios da gravura européia que só encontrariam rival no trabalho de Albrecht Dürer (1471-1527).

Nascido em Nuremberg, Dürer é considerado o maior artista alemão de todos os tempos tendo deixado uma vasta obra como desenhista, ilustrador de livros, pintor, escritor e gravador. Seu trabalho representa um marco inigualável na gravura, graças a qualidade artística de altíssimo nível por ele alcançada.

Dürer não foi apenas um artista de talento excepcional, mas também um Intelectual respeitado pelo conhecimento da cultura de sua época.

Uma pessoa educada que visitou a Itália a França, a Holanda e a Suíça para conhecer a arte e os artistas destes países. Muitos escritos deixados por ele demonstram seu Gênio e consciência que tinha da sua obra e o dos seus dons, além da força de uma personalidade luminosa. Homem da renascença, se interessou por muitos assuntos de sua época.

Como a maioria dos artistas renascentistas, Dürer começou como aprendiz do pintor e ilustrador Michael Wolgemut trabalhando numa cidade que era um importante centro de produção de gravuras e de livros.

A cidade de Nuremberg era também m centro de humanismo florescente na Europa no final do século XV.

A obra deste grande artista merece destaque quando se trata da gravura ocidental porque ele é reconhecidamente um gravador extraordinário cujo trabalho alcançou uma qualidade artística inigualável.

Suas xilogravuras foram reunidas pelo Dr Willi Kurth, maior especialista na obra de Dürer no excelente livro “The Complete Woodcuts of Albrecht Dürer”. Através deste livro podemos conhecer o sofisticado trabalho que ele nos legou e apreciar suas maravilhosas xilogravuras comentadas uma a uma com sua história e significados.

As gravuras citadas neste texto, assim como uma pequena mostra ilustrativa das xilogravuras de Dürer podem ser vistas na Exposição Virtual - Gravura Européia Renascentista no Flickr do Prêmio Ibema gravura.

Fábio Mestriner

Professor Coordenador do Núcleo de Estudos da Embalagem ESPM; Professor do Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Embalagem da Escola de Engenharia MAUÁ; Coordenador do Comitê de Estudos Estratégicos da ABRE Associação Brasileira de Embalagem; Autor dos livros Design de Embalagem Curso Avançado e Gestão Estratégica de Embalagem.

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